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Atualmente, com toda a preocupação sobre a epidemia de diabetes Tipo 2 nos EUA, é fácil perder de vista a forma menos comum, porém muito mais séria e incurável de diabetes chamada Tipo 1.
Conhecido anteriormente como diabetes juvenil, o Tipo 1 começa frequentemente na infância, embora algumas vezes a doença se desenvolva em adultos. Ela exige atenção quase constante ao nível de açúcar no sangue e tratamento com insulina para mantê-lo normal. Uma falha nesse controle pode rapidamente torná-la fatal. Os dois tipos de diabetes envolvem a incapacidade do hormônio insulina de fazer seu trabalho, mas por razões distintas. A insulina transporta o açúcar do sangue, ou glicose, da corrente sanguínea para as células do corpo, onde é usado como energia. No diabetes Tipo 2, que pode aparecer em qualquer idade, o pâncreas geralmente produz a quantidade adequada de insulina, mas os tecidos do corpo se tornam resistentes ao seu efeito, frequentemente por excesso de peso ou obesidade. A perda de peso normalmente resolve esse problema.
Pessoas com o diabetes Tipo 1, por outro lado, têm dificuldade em manter seu peso. É uma doença autoimune em que os glóbulos brancos destroem as células que produzem a insulina no pâncreas. Sem insulina, a glicose não chega até as células onde forneceriam energia para metabolizar os nutrientes e sustentar a vida.
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Vivendo uma vida normal
Sem dúvida o diabetes Tipo 1 é uma doença desafiadora, embora menos atualmente, graças ao avanço tecnológico que facilitou o teste de açúcar no sangue e ofereceu novas formas de suprir o corpo de insulina.
E, como mostram as duas crianças da família Gustin, em Denver, a doença não impede ninguém de viver uma vida normal. Aidan Gustin, agora com 16, tinha 11 anos quando foi detectado seu alto índice de glicêmico pela primeira vez. Ele foi inscrito, ao nascer, em um estudo da Universidade do Colorado à procura de marcadores para diabetes Tipo 1 no sangue do cordão umbilical.
Com base na presença de determinados marcadores, Aidan foi considerado com grande risco de diabetes e acompanhado por toda infância.
"Então o diagnóstico, quando surgiu, não foi um choque," sua mãe Carrie Gustin disse numa entrevista. "Nossa reação foi: 'ok, e o que ele precisa para ficar bem?'"
"E Aidan", disse ela, "não deixou o diabetes mudar sua vida. Ele continuou jogando hóquei, esquiando e fazendo caminhadas, e fez uma viagem pelo rio com o pai. Atualmente ele faz esqui 'backcountry' e, embora pense em ir para a faculdade, sua meta principal é se tornar um grande esquiador".
Sabe-se há muito que o diabetes Tipo 1 é conhecido por ter uma base genética que interage de alguma forma com fatores ambientais _ alguns vírus são fortes suspeitos _ para causar um ataque às células beta do pâncreas, que produzem a insulina.
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Assim, quando a filha dos Gustin, Fiona, também foi diagnosticada com a doença aos 9 anos, seus pais sabiam que não era uma coincidência sinistra. "Tentamos ser abertos em relação a isso", diz Carrie Gustin. "Não há do que se envergonhar. Conversamos com a professora dela, que explicou para a classe. As crianças consideram Fiona como seu experimento."
Como o irmão mais velho, Fiona vive uma infância ativa, jogando basquete, vôlei, futebol e também esquiando. No último verão, ela participou de um acampamento com o tema diabetes onde, além de praticar esportes aquáticos, ela pôde aprender mais sobre sua doença e como lidar com ela. "Quanto menos drama fizermos sobre isso, mais fácil será para eles," disse Carrie Gustin de seus filhos.
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Talvez o maior desafio seja o financeiro, para os pais.
Carrie e Ian Gustin têm mais dois filhos, bem como um plano de saúde, graças ao emprego de Ian. Mesmo assim, há um custo mensal pela cobertura dos seis membros da família, somado a altas franquias (3.000 dólares por pessoa ou 6.000 dólares pela família), além de custos substanciais com bombas de insulina e acessórios para 2 crianças, kits de teste glicêmico e, naturalmente, um suprimento regular de insulina.
Para cobrir os custos, Carrie Gustin diz, " temos que abrir mão de outras coisas na vida. Nós não vamos ao zoológico, a museus, ao aquário. Raramente comemos fora, não pedimos comida a domicílio, só vamos ao cinema de um dólar e nossas férias geralmente se resumem a visitas a parentes. Meus filhos ouvem 'não' com frequência."
Esquiar continua sendo o principal entretenimento da família, com custos controlados e reaproveitamento de equipamentos.
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Prevenindo complicações
Além de manter uma vida normal, a metam para os Gustin e todos os outros portadores de diabetes Tipo 1, é manter o nível de glicose o mais próximo possível do normal, para prevenir ou ao menos retardar futuras complicações que possam ameaçar suas vidas. Quando o nível glicêmico permanece cronicamente alto, multiplicam-se as chances de desenvolver doença cardíaca, renal, danos aos nervos e acidentes vasculares.
Por exemplo, em junho, o periódico médico The Lancet publicou em seu site um estudo de quase 21.000 pacientes com diabetes Tipo 1, que inicialmente não apresentavam doenças cardíacas. Durante um acompanhamento médio de 9 anos, os que possuíam níveis glicêmicos mal controlados tiveram 4 vezes mais chances de precisar ser internados por problemas cardíacos.
Danos aos nervos e aos vasos sanguíneos, causados por hiperglicemia crônica, podem levar à amputação de membros inferiores e causar cegueira por lesão na retina.
Agora é possível medir uma substância no sangue chamada hemoglobina glicosilada (HbA1c), que indica se o índice de açúcar está bem controlado. Um nível de até 6 por cento é normal, mas, acima de 7 por cento, representa um risco maior de complicações. Os especialistas em diabetes pedem um exame de HbA1c a cada 3 a 6 meses para saber se o controle de glicose no sangue precisa de ajustes.
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Nos últimos 40 anos, os avanços no controle glicêmico resultaram em um aumento de 15 anos na expectativa de vida das pessoas com diabetes Tipo 1. Ainda assim, a taxa de mortalidade é alta em relação à das pessoas que não têm diabetes. Melhorias na expectativa de vida podem ocorrer à medida que os pacientes tenham acesso e condições de pagar o tratamento.
Especialistas em nutrição com conhecimento de controle de diabetes podem desenvolver dietas fáceis de seguir. O truque é equilibrar a ingestão de carboidratos com a de insulina e, ao mesmo tempo, ter uma dieta balanceada. As severas restrições aos carboidratos das décadas passadas não existem mais, especialmente se eles forem consumidos na forma de grãos integrais e os açúcares simples forem limitados.
Também é fundamental ajustar a dose de insulina à quantidade de energia gasta com atividades físicas. Um esforço excessivo sem redução compensatória da insulina pode resultar em choque insulínico, que é potencialmente fatal. Assim, as pessoas com diabetes são aconselhadas a carregar sempre uma fonte de fácil ingestão de açúcar _ como uma bala, um refrigerante ou suco de fruta _ para o caso de apresentarem sintomas de hipoglicemia como tremores, fraqueza, suores, tonturas, visão turva, fome ou taquicardia.
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fonte : nytsyn.br.msn.com