quarta-feira, 12 de outubro de 2011

LISTA NEGRA DE HUGO CHAVES


Hugo Chávez parece reinar absoluto como presidente/ditador da Venezuela. Mas nem sempre foi assim. Chávez sobreviveu a protestos violentos, greves nacionais e até um golpe militar. Talvez seu teste mais difícil tenha sido nas urnas. Em 2003, seus opositores reuniram um conjunto de assinaturas forçando a realização de um referendo junto à população, sobre a continuidade do referido ditador como chefe de estado da Venezuela. Chávez acabou vencendo o referendo com 59% dos votos a seu favor.
O interessante é que a lista de pessoas que assinaram a petição para o referendo — com nome, data de nascimento e endereço — acabou sendo disseminada nos mais diversos escalões do governo. Inclusive era possível comprá-la de vendedores de rua nos principais centros urbanos da Venezuela. Com base nesses dados, os pesquisadores Chang-Tai Hsieh, Edward Miguel, Daniel Ortega e Francisco Rodriguez buscaram responder à seguinte pergunta: qual o custo de ter uma opinião política contrária em uma ditadura como a de Chávez?
Os resultados encontram-se em um artigo recentemente publicado, que pode ser acessado aqui. Os autores cruzaram informações da lista de pessoas que assinaram a petição com dados da pesquisa domiciliar anual da Venezuela, e conseguiram identificar cerca de 150.000 indivíduos, distribuídos ao longo do periódo 1997-2006. Em particular, foi possível obter informações sobre a opinião política dessas pessoas e sobre seu desempenho no mercado de trabalho (como salário e empregabilidade).
As conclusões do artigo revelam que os custos de se opor ao regime não são nada triviais. Após 2004 (ano em que foi realizado o referendo), as pessoas que assinaram a petição observaram em média redução de 5% em seus ganhos anuais, e queda de 1,3 pontos percentuais na chance de estarem empregados (relativamente àqueles que não assinaram a petição). Antes de 2004, não há tendência de queda ou aumento nessas duas variáveis, quando comparamos opositores e não opositores do regime.
Estes resultados são consistentes com a existência de perseguição política contra indivíduos que desejavam remover Chávez do poder. Especificamente, opositores teriam mais dificuldade em conseguir e manter bons empregos tanto no setor público, como no setor privado, por conta da pressão exercida pelos integrantes de um regime opressor e centralizador. Na verdade, a perseguição nem precisa ocorrer. Só a mera expectativa de que empregadores sofrerão represálias já basta para que haja discriminação contra os opositores de Chávez.

fonte: colunas.epoca.globo.com

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